Medicamentos quimioterápicos com maior risco de causar mucosite oral

quimioterápicos e mucosite oral

O câncer está entre uma das dez doenças que mais matam no mundo e no Brasil ocupa a segunda maior causa de mortalidade, de acordo com dados recentes da Organização Mundial de Saúde (OMS).

Para tratar pacientes oncológicos as modalidades mais comuns de tratamento normalmente envolvem cirurgia, radioterapia, quimioterapia ou tratamentos combinados, além de outras abordagens.  

A quimioterapia é considerada a modalidade mais comum de tratamento antineoplásico1, e sua ação se dá por meio da utilização de fármacos, chamados de quimioterápicos.

Quando o quimioterápico é absorvido pelo organismo e misturado na corrente sanguínea, atuam destruindo as células cancerígenas, mas nesse processo, células que se encontram em estado de funcionamento normal também são atingidas, causando então os efeitos colaterais, dentre eles a mucosite oral.

A intensidade dos efeitos colaterais da quimioterapia é algo que depende da medicação que é utilizada, dose, frequência e de como cada organismo pode reagir. No caso da presença da mucosite oral, além da medicação, fatores como a idade, o sexo, o estado nutricional, as alterações na produção salivar, o trauma local e o nível de higiene bucal podem determinar o grau de severidade das lesões2.

Conhecer quais medicamentos quimioterápicos possuem mais risco de causar mucosite oral é um importante passo para realizar a prevenção e o manejo adequado da doença, que se não tratada corretamente pode levar desde a interrupção do tratamento contra o câncer, até mesmo a morte.

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Incidência da mucosite oral

Em pacientes em tratamento de câncer, a probabilidade de apresentar mucosite oral varia de acordo com o tipo de tumor e o regime de tratamento.

Por tipo de tumor

incidência da mucosite oral por tipo de tumor
Incidência da mucosite oral por tipo de câncer 4567

Pelo regime de tratamento e suscetibilidade do paciente

incidência de mucosite oral por fatores do paciente

Por que a quimioterapia causa mucosite oral?

A mucosite oral é uma das complicações mais comuns e debilitantes do tratamento com quimioterapia. Ela ocorre porque os medicamentos usados na quimioterapia não conseguem distinguir entre células cancerígenas e células saudáveis, especialmente aquelas que se dividem rapidamente, como as células da mucosa oral, que acabam se tornando um alvo do fármaco.

Dentre os principais fatores que contribuem para o desenvolvimento da mucosite oral durante a quimioterapia podemos listar1:

Toxicidade direta ao DNA

A quimioterapia pode causar danos diretos ao DNA das células da mucosa bucal. Esses danos podem levar à morte celular ou a alterações que resultam em inflamação e ulceração.

Produção de radicais livres

Durante o tratamento, a quimioterapia pode induzir a produção de radicais livres, que são moléculas altamente reativas capazes de causar mais danos às células, incluindo as células da mucosa oral.

Inflamação

Os agentes quimioterápicos podem desencadear uma resposta inflamatória que contribui para a lesão da mucosa. As citocinas e outros mediadores inflamatórios liberados em resposta ao tratamento exacerbam a mucosite.

Proliferação celular reduzida

A quimioterapia inibe a capacidade das células da mucosa bucal de se regenerar e se reparar, o que retarda a cicatrização de qualquer lesão e aumenta a susceptibilidade a ulcerações e infecções.

Alteração da microbiota bucal

A quimioterapia pode alterar a composição da microbiota bucal, reduzindo a quantidade de bactérias protetoras e permitindo que patógenos oportunistas proliferem, o que pode levar a infecções secundárias e agravar a mucosite.

Quais medicamentos quimioterápicos possuem maior risco de causar mucosite oral?

A mucosite oral é um efeito adverso da quimioterapia que, além de provocar dor, pode levar à interrupção do tratamento. Assim, é cada vez mais importante entender a relação entre os protocolos quimioterápicos que apresentam maior toxicidade bucal, a fim de oferecer prevenção e tratamento para esta doença. Conheça a seguir os fármacos que estão relacionados a incidência da mucosite:

Fluorouracil (5-FU)

O fluorouracil ou 5-FU é comumente utilizado no tratamento quimioterápico de tumores malignos do trato gastrointestinal. As células normais o absorvem e, em consequência, tornam-se incapazes de se dividir. Além disso, o 5-FU influencia no aparecimento de infecções, devido à imunossupressão também promovida por esse medicamento. 1

Protocolos baseados no tratamento de carcinoma evidenciaram que, em tratamentos com quimioterápicos como 5-FU e derivados da platina, agravam-se a incidência e a gravidade da mucosite de um ciclo para outro. Estudos demonstraram que 90% dos pacientes desenvolveram mucosite após utilização de 5-FU.3

Na imagem abaixo, você pode conferir para quais tipos de câncer o Fluorouracil é comumente utilizado. Logo, os pacientes que tratam essas condições são os que mais têm chance de desenvolver mucosite oral.

tipos de câncer tratados com fluorouracil

Metotrexato (MTX)

O metotrexato (MTX) é um tipo de medicamento conhecido como antimetabólito. Ele é similar ao ácido fólico, uma substância natural do corpo. Os medicamentos dessa categoria funcionam atacando as células durante certas fases de seu ciclo de vida e imitam substâncias que o corpo produz. Quando o metotrexato entra nas células, ele impede que elas se dividam e cresçam.1

Desse modo, o metotrexato está diretamente relacionado à estomatotoxicidade, por meio da produção de citocinas inflamatórias que agem diretamente sobre o epitélio humano.1

A seguir, confira quais são as principais condições tratadas com Metotrexato:

condições tratadas com metrotexato

Ciclofosfamida (CTX)

A ciclofosfamida é citada como um dos fármacos mais relacionados ao desenvolvimento da mucosite oral, juntamente com o fluorouracil e o metotrexato.

A ciclofosfamida é uma droga imunossupressora, alquilante que age de forma semelhante à cisplatina e atua na fase de repouso da célula. É indicada, preferencialmente, para o tratamento de neoplasias malignas hematológicas, pré e pós-transplante de medula, muito utilizada para o tratamento de doenças autoimunes, câncer e transplantes.1

tipos de câncer tratados com ciclofosfamida

Cisplatina (CDDP)

Quimioterapia à base de cisplatina (CDDP) e radioquimioterapia concomitante são as primeiras escolhas para o tratamento do câncer na região de cabeça e pescoço em estágios avançados.1

Esse agente é mais ativo na fase de repouso da célula e não age especificamente durante o ciclo celular. Dentre os seus efeitos colaterais se destaca a supressão do sistema imune do paciente. Com isso, a predisposição do organismo para o desenvolvimento de infecções oportunistas aumenta, a exemplo das infecções fúngicas, virais e bacterianas, aumentando assim a incidência de mucosite.1

tipos de câncer tratados com cisplatina

👉 Leia também: Como prevenir e tratar a mucosite oral?

Como tratar a mucosite oral?

Como visto anteriormente, em alguns tipos de tratamento oncológico, a chance de desenvolver mucosite oral é de quase 100%. Para amenizar os possíveis efeitos desta condição, é possível tomar algumas medidas:

Garantir boa higiene bucal

A boa higiene bucal é imprescindível para impedir que a mucosite oral avance para estágios mais severos.

Mantenha a boca hidratada

Manter a boca hidratada ajuda a limpar irritantes e reduzir a secura, que pode agravar a mucosite.

Dieta adequada

Evitar alimentos ácidos, picantes, duros, crocantes ou quentes que possam irritar a mucosa bucal.

Evitar tabaco e álcool

Fumar e consumir álcool podem irritar a mucosa, portanto devem ser evitados.

Crioterapia

Chupar gelo durante a administração de quimioterapia pode ser benéfico para prevenir a mucosite.

Enxaguantes bucais

Enxaguantes bucais com corticosteroides podem reduzir a inflamação e o desconforto.

Analgésicos

Medicamentos com opiáceos podem ajudar a reduzir a dor.

Cremes tópicos

Géis orais anestésicos ou anti-inflamatórios podem ser aplicados diretamente nas úlceras para aliviar a dor e a inflamação.

Terapia de luz de baixa potência (LEDT)

A LEDterapia (LEDT)8 tem efeito cicatrizante, anti-inflamatório e analgésico, prevenindo e reduzindo a severidade da mucosite. Ela é uma tratativa indolor, não invasiva e que pode ser aplicada em casa por meio do dispositivo Odontollux.

quimiterapicos e mucosite oral

Referências

1 JESUS, Leila Guerreiro de; CICCHELLI, Monise; MARTINS, Gabriela Botelho; PEREIRA, Manoela Carrera Cavalcante; LIMA, Hayana Santos; MEDRADO, Alena Ribeiro Alves Peixoto. Repercussões orais de drogas antineoplásicas: uma revisão de literatura. RFO, Passo Fundo, v. 21, n. 1, p. 130-135, jan./abr. 2016. Disponível em: http://dx.doi.org/10.5335/rfo.v21i1.5052.

2 Brown, T. J., & Gupta, A. (2020). Management of Cancer Therapy–Associated Oral Mucositis. JCO Oncology Practice, 16(3), 103-109. https://doi.org/10.1200/JOP.19.00652.

3 CURRA, Marina et al. Protocolos quimioterápicos e incidência de mucosite bucal. Revisão integrativa. Einstein (São Paulo), São Paulo, v. 16, n. 1, p. 1-9, 2018. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1590/S1679-45082018RW4007.

4. Trotti A, Bellm LA, Epstein JB, et al. Mucositis incidence, severity and associated outcomes in patients with head and neck cancer receiving radiotherapy with or without chemotherapy: a systematic literature review. Radiother Oncol. 2003;66(3):253-262. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/12742264/

5. Fernandes LL, Torres SR, Garnica M, et al. Oral status of patients submitted to autologous hematopoietic stem cell transplantation. Support Care Cancer. 2014;22(1):15-21. Disponível em: https://journals.plos.org/plosone/article?id=10.1371/journal.pone.0285615

6. Nishimura N, Nakano K, Ueda K, et al. Prospective evaluation of incidence and severity of oral mucositis induced by conventional chemotherapy in solid tumors and malignant lymphomas. Support Care Cancer. 2012;20(9):2053-2059. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/22116139/

7. Nonzee NJ, Dandade NA, Patel U, et al. Evaluating the supportive care costs of severe radiochemotherapy-induced mucositis and pharyngitis: results from a Northwestern University Costs of Cancer Program pilot study with head and neck and nonsmall cell lung cancer patients who received care at a county hospital, a Veterans Administration hospital, or a comprehensive cancer care center. Cancer. 2008;113(6):1446-1452. Disponível em: https://acsjournals.onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1002/cncr.237147

8Lalla, R. V., Bowen, J., Barasch, A., Elting, L., Epstein, J., Keefe, D. M., McGuire, D. B., Migliorati, C., Nicolatou-Galitis, O., Peterson, D. E., Raber-Durlacher, J. E., Sonis, S. T., Elad, S., & Mucositis Guidelines Leadership Group of the Multinational Association of Supportive Care in Cancer and International Society of Oral Oncology (MASCC/ISOO). (2014). MASCC/ISOO clinical practice guidelines for the management of mucositis secondary to cancer therapy. Cancer, 120(10), 1453-1461. https://doi.org/10.1002/cncr.28592

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