O câncer é um problema de saúde pública mundial, e na maioria dos países, corresponde à primeira ou à segunda causa de morte prematura, antes dos 70 anos. Na última década, houve um aumento de 20% na incidência e espera-se que, para 2030, ocorram mais de 25 milhões de casos novos, aponta a Revista Brasileira de Cancerologia. 1
Dentro desse cenário, um dos efeitos adversos causados pelo tratamento oncológico, além de efeitos colaterais, é a alteração na autoestima do paciente. Deste modo, é muito importante que pacientes, familiares e profissionais da área da oncologia entendam quais os principais fatores, evidenciados pela literatura especializada, que levam à perda de autoestima do paciente oncológico, como também estratégias de enfrentamento da condição.
Além de cuidar do físico, prestar atenção nas emoções geradas durante o tratamento também é parte fundamental no enfrentamento da doença, conforme orienta a psico-oncologista, Vera Bifulco, do Instituto Paulista de Oncologia (IPC). A seguir, você confere mais detalhes sobre como cuidar da autoestima do paciente com câncer.
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Neste artigo você irá encontrar:
ToggleO que é autoestima?
Muito se fala em autoestima, mas o que exatamente pode se entender sobre esse conceito? De modo geral, a autoestima é um conceito psicológico que se refere à forma como uma pessoa se percebe e se valoriza.
Ela reflete o quanto alguém se valoriza, respeita e se sente merecedor de amor e felicidade. Autoestima é construída com base nas experiências de vida, influências externas, e como a pessoa interpreta essas influências.
Do ponto de vista dos analistas comportamentais2, a autoestima é uma experiência subjetiva que reflete como as pessoas percebem seu valor e importância com base em como foram reforçadas ou punidas em suas interações sociais ao longo do tempo.
Principais fatores que levam à perda de autoestima do paciente oncológico
Os fatores que levam à perda de autoestima em pacientes oncológicos, conforme estudos 3,4, incluem:
Alopecia
A perda de cabelo é frequentemente considerada um efeito colateral angustiante e afeta diretamente a autoimagem do paciente. O cabelo é uma parte integral da identidade humana, e sua perda pode ter repercussões negativas em vários aspectos da qualidade de vida, principalmente na vida das mulheres, pois o cabelo desempenha um verdadeiro símbolo de beleza, feminilidade, juventude e saúde para elas.
Perda da privacidade
A perda visível dos fios afeta não apenas a identidade do paciente, mas também expõe sua condição, comprometendo a privacidade em relação ao tratamento oncológico. Isso pode agravar o processo de cura, pois o estigma social associado ao câncer tende a impactar negativamente o bem-estar do paciente.
Debilidade física
Atividades que antes eram simples, tornam-se mais difíceis de realizar. Além disso, náuseas, vômitos, anorexia, e debilidade física são alguns dos sentimentos que podem gerar sensação de impotência e desesperança, afetando diretamente a autoestima do paciente.
Perda do papel social
O impacto psicológico não se limita apenas ao paciente, mas também afeta significativamente os familiares. Há alteração de papéis na relação com a família e sociedade, muitas vezes em decorrência da situação trabalhista.
Isolamento social
O afastamento das atividades sociais e do convívio com outras pessoas devido aos efeitos físicos e emocionais do tratamento contribui para uma visão negativa de si mesmo.
Alterações na autoimagem
A percepção de desfiguração corporal, seja pela alopecia ou por outras mudanças físicas causadas pelo tratamento (como perda de peso, feridas, amputação, etc.) pode levar à insatisfação com a própria aparência e, consequentemente, à perda de autoestima.
Mal-estar psicológico
Inclui a ocorrência de pensamentos negativos, depressão, isolamento social, e estresse, que juntos contribuem para um comprometimento da autoestima.
Como manter a autoestima durante o tratamento contra o câncer?
Segundo estudos3,4, algumas atitudes podem ajudar a manter a autoestima durante o enfrentamento contra o câncer. Confira a seguir.
Prática de atividades físicas
A prática de atividade física durante o tratamento oncológico se revelou um componente importante para o tratamento da doença, pois se mostrou uma medida eficaz para alívio dos sintomas e melhora no bem-estar físico, trazendo de volta a saúde física, mental e social.
Programa de apoio psicossocial
Um programa de apoio psicossocial integrado para os pacientes e seus acompanhantes é essencial para ajudá-los a lidar com os estresses que enfrentam, responder suas perguntas, ouvi-los pacientemente, ajudá-los a expressar suas emoções, dar explicações, conselhos e apoio.
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Orientar corretamente sobre a alopecia
A incidência de alopecia é estimada em 65% nos tratamentos quimioterápicos, e é considerada um dos fatores mais temidos e traumáticos no tratamento de pacientes com câncer.
Segundo estudo5, o principal efeito na autoestima da mulher, especialmente em situações como o câncer de mama, é a percepção de uma mudança drástica na autoimagem e na identidade feminina. A mulher pode sentir-se menos feminina, menos atraente e, muitas vezes, “menos mulher” devido à perda de características associadas à feminilidade, como o seio e o cabelo.
Essas mudanças físicas, somadas ao estresse psicológico e social, impactam profundamente a autoestima, gerando sentimentos de inferioridade, ansiedade e medo de rejeição, especialmente em relacionamentos afetivos.
Por conta do sentimento de estigmatização, e das alterações na identidade do indivíduo de uma pessoa saudável para a de um paciente com câncer é necessário que os profissionais de saúde orientem o paciente antecipadamente como lidar com a alopecia.
Aconselhamento ocupacional
O retorno ao trabalho de pacientes oncológicos pode ser impactado por mudanças físicas, emocionais e socioeconômicas causadas pelos efeitos adversos do tratamento, como alterações na aparência, angústia e baixo rendimento. A falta de recursos, como apoio social e informação, pode dificultar ainda mais essa transição. Profissionais de saúde devem fornecer suporte psicossocial, informações específicas e intervenções para ajudar pacientes vulneráveis a superar essas barreiras e retomar suas atividades laborais.
Atividades de embelezamento e uso de adornos
Pacientes oncológicos frequentemente se sentem ansiosos e inseguros devido às mudanças na aparência, como alopecia, o que pode levar a uma insatisfação com a imagem corporal. Essas mudanças são percebidas como estigmas negativos, pois revela a sua condição de saúde aos demais, por isso os pacientes tendem a tentar escondê-las.
Nesse momento, é importante avaliar alternativas para aumentar a autoestima do paciente oncológico, como o uso de perucas, cosméticos, técnicas de camuflagem e resfriamento capilar e demais intervenções para apoiar sua autoestima e bem-estar emocional.
1 Santos, M. O., Lima, F. C. S., Martins, L. F. L., Oliveira, J. F. P., Almeida, L. M., & Cancela, M. C. (2023). Estimativa de Incidência de Câncer no Brasil, 2023-2025. Revista Brasileira de Cancerologia, 69(1), e-213700. https://doi.org/10.32635/2176-9745.RBC.2023v69n1.3700. Acesso em 02 set. 2024.
2 Marcelino, M. R., & Elias, N. C. (2023). O que é autoestima para os analistas do comportamento? Uma revisão sistemática. Interação em Psicologia, 27(3), 330-340. https://dx.doi.org/10.5380/riep.v27i3.85436. Acesso em 02 set. 2024.
3 OLIVEIRA, F. B. M. et al. Alterações da autoestima em pacientes oncológicos submetidos ao tratamento quimioterápico. Revista Eletrônica Acervo Saúde, v. 11, n. 3, p. 1-13, 2018. DOI: https://doi.org/10.25248/reas.e190.2019. Acesso em: 30 ago. 2024
4 CALDINI, Luana Nunes; MEDINA, Luis Angel Cendejas; SILVA, Renan Alves; BARROS, Lívia Moreira; LIMA, Magda Milleyde de Sousa; MELO, Geórgia Alcântara Alencar; CAETANO, Joselany Áfio. Autoconceito e função do papel em pacientes com câncer de cabeça/pescoço. Acta Paulista de Enfermagem, v. 34, p. eAPE00892, 2021. DOI: http://dx.doi.org/10.37689/acta-ape/2021AO00892. Acesso em: 30 ago. 2024
5 Gois, R. L. B., Cipolotti, R., Soares, D. A. S., Lobão, T. A., Santana, A. B. S., & Cardoso, L. O. (2023). Autoestima e autoimagem da mulher com câncer de mama. Research, Society and Development, 12(4), e17212441028. https://doi.org/10.33448/rsd-v12i4.41028. Acesso em: 30 ago. 2024.
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