O diagnóstico de câncer não afeta apenas o paciente, mas também impacta profundamente seus familiares, amigos e cuidadores.
Nesse contexto desafiador, o papel da família deve ser visto com cuidado e atenção, já que eles são essenciais para o bem-estar do paciente oncológico, e exercem papel fundamental na qualidade de vida e adesão ao tratamento.
Porém, o processo de cuidar de um paciente oncológico pode ser muito desgastante para os apoiadores do paciente, por isso, acompanhar e dar atenção para a família e cuidadores também deve fazer parte do tratamento.1
Com este artigo, pretende-se chamar a atenção dos profissionais que atuam em oncologia quanto à necessidade de voltarem sua atenção também à família, considerando que ela também enfrenta um profundo sofrimento com esta condição.1
A seguir, você irá conhecer os principais desafios que as famílias e cuidadores de pacientes com câncer enfrentam e quais são as estratégias para lidar com esta situação.
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Neste artigo você irá encontrar:
ToggleAfinal, quem é o cuidador do paciente com câncer?
A mudança do cuidado dos pacientes com câncer do hospital para o ambiente domiciliar se deve à redução de custos associados à assistência hospitalar prolongada, ao aumento da responsabilidade familiar, à melhoria da qualidade de vida do paciente, ao suporte proporcionado pela rede de apoio social e às políticas públicas que incentivam esse modelo.
No artigo “Apoio social à família do paciente com câncer: identificando caminhos e direções”2, os cuidadores do paciente com câncer são definidos principalmente como membros da família que assumem a responsabilidade pelas necessidades físicas e emocionais do doente.
Esses cuidadores podem incluir cônjuges, outros familiares próximos, e amigos, que participam ativamente no processo de cuidado, oferecendo tanto cuidados diretos, quanto apoio indireto.
Apesar de geralmente serem leigos, esses cuidadores assumem um papel extremamente importante na assistência à saúde do paciente, comumente enfrentando sobrecargas físicas, emocionais e econômicas.
A figura do cuidador é central na dinâmica de apoio ao paciente, sendo reconhecida como uma fonte principal de suporte para o paciente com câncer.
Responsabilidades atribuídas ao cuidador do paciente com câncer
As principais obrigações normalmente atribuídas ao cuidador do paciente com câncer podem ser vistas a seguir2:
Cuidados diretos
- Higiene pessoal do paciente.
- Alimentação.
- Administração de medicação.
- Cuidados de feridas e curativos.
Apoio indireto
- Acompanhamento em consultas médicas.
- Coordenação de cuidado com profissionais de saúde.
- Obtenção de medicamentos.
- Agendamento de consultas.
Administração de sintomas e conforto
- Uso de abordagens não farmacológicas para o alívio de sintomas.
- Monitoramento e relato dos efeitos indiretos e da efetividade do tratamento.
Necessidade de informação
- Informar-se sobre a doença e o tratamento.
- Receber instrução sobre habilidades técnicas para cuidar no domicílio.
- Buscar estratégias para resolução de problemas relacionados ao cuidado.
Apoio emocional e psicológico
- Oferecer suporte emocional e companhia.
- Auxiliar na gestão do estresse e da sobrecarga emocional.
- Promover a qualidade de vida e o bem-estar do paciente.
Apoio espiritual e religioso
- Buscar e fornecer conforto espiritual e religioso.
- Envolver-se em práticas e atividades que fortaleçam a fé e a resiliência emocional do paciente e da família.
Essas obrigações refletem a complexidade do papel do cuidador na assistência ao paciente com câncer, abrangendo desde cuidados físicos até suporte emocional e administrativo.
Principais desafios enfrentados pelos cuidadores do paciente com câncer
As famílias cuidadoras de pacientes oncológicos enfrentam grandes dificuldades para lidar com essa doença, já que o câncer impõe mudanças na rotina, orçamento e dinâmica familiar, alterando, em algum nível, seus papéis familiares e sociais.1
Quanto mais baixa a condição socioeconômica da família, mais vulnerável ela está diante do tratamento, pois em situações como esta, o precário poder aquisitivo dessas famílias fica ainda mais comprometido, especialmente quando o paciente e/ou seu cuidador são os provedores da família.1
Dificuldade de acesso aos serviços de saúde
Em relação ao câncer, os segmentos mais pobres enfrentam barreiras de acesso a serviços de saúde para detecção e tratamento precoce da doença.
No enfrentamento ao câncer, doença crônica que demanda tratamento complexo, continuado e de longa duração, o quadro socioeconômico familiar dos pacientes precisa ser levado em conta, pois pode comprometer o seguimento do paciente e os cuidados que a doença exige.1
Segundo pesquisas há forte associação entre classe social e câncer, com quase o dobro do risco relativo quando se compara o grupo menos favorecido com o mais favorecido. 1
Desgaste físico e problemas de saúde
Cuidar do paciente envolve uma série de tarefas físicas como administração de medicamentos, cuidados com feridas, alimentação e higiene pessoal, o que pode ser fisicamente exaustivo.
Devido as demandas contínuas de cuidados, ocorre o desgaste físico e emocional dos cuidadores.
O aumento da dependência do paciente conforme a doença progride pode sobrecarregar ainda mais o cuidador.
A carga física e a falta de tempo para cuidar de si mesmos podem levar a problemas de saúde, como fadiga crônica, declínio da saúde física e aumento do risco de doenças.
Sobrecarga emocional e problemas psicológicos
O câncer traz severas complicações psicológicas não apenas para o paciente, mas para a família que enfrenta o estigma e medo associados ao diagnóstico de câncer. Além disso, há o medo de ocorrer o falecimento do familiar e o sentimento de revolta frente a situação.
Lidar com a doença grave de um ente querido gera estresse emocional significativo, resultando em sentimentos de tristeza, ansiedade e, muitas vezes, depressão.
O estresse e ansiedade devido à incerteza do prognóstico são comuns, sentimentos principalmente gerados pelo sofrimento emocional ao lidar com a progressão da doença e os tratamentos agressivos.
A carga de dar suporte emocional ao paciente com câncer pode sobrecarregar o cuidador que não está preparado para lidar com tais desafios.
Implicações sociais
O paciente, tanto quanto a família, podem experimentar estigma social e isolamento devido ao diagnóstico de câncer.
A nova rotina de cuidados, a necessidade de dar suporte constante, pode levar o apoiador ao afastamento de atividades sociais e de lazer, prejudicando a sua qualidade de vida.
Impacto socioeconômico
Durante o tratamento oncológico, há um aumento significativo das despesas médicas, como medicamentos, transporte, equipamentos e consequente diminuição da renda familiar, especialmente se o paciente ou o cuidador principal é o provedor da família.
Muitas vezes, os cuidadores precisam reduzir suas horas de trabalho ou deixar seus empregos para cuidar do paciente, resultando em perda de renda e aumento do estresse financeiro.
Em famílias chefiadas por mulheres, a condição é ainda mais grave, devido à baixa remuneração dessas mulheres. Configurando-se um quadro de maior vulnerabilidade social, o que alguns estudos vêm denominando de “feminilização da pobreza”. 1
Dificuldades de comunicação
Devido ao estigma e sofrimento gerado pelo câncer, há dificuldades na comunicação dentro da família sobre o diagnóstico e a progressão da doença.
Há também a formação de “ilhas de comunicação” onde algumas informações são mantidas em segredo para proteger membros mais vulneráveis da família.
Conflito na reorganização da dinâmica familiar
Os familiares acabam tendo a necessidade de adaptar a rotina diária para incluir os cuidados com o paciente, o que pode gerar a alteração dos papéis e responsabilidades dentro da família.
Os cuidadores muitas vezes precisam equilibrar as responsabilidades de cuidado com outras obrigações, como trabalho e cuidados com outros membros da família, o que pode levar a conflitos de papéis.
O estresse e a pressão podem causar tensão nos relacionamentos, tanto com o paciente quanto com outros membros da família.
Além disso, o cuidador precisa de preparo adequado para saber a rotina do paciente, o que gera uma nova dinâmica na vida do cuidador também.
Necessidade de informação e capacitação
Muitos cuidadores sentem-se despreparados para lidar com os cuidados exigidos, necessitando de mais informações e treinamento sobre como cuidar da melhor maneira do paciente.
Participar de programas educacionais e grupos de apoio pode ajudar os cuidadores a desenvolver habilidades de enfrentamento e a encontrar apoio emocional e social.
Esses desafios destacam a importância de uma abordagem integral no tratamento oncológico que inclua a atenção às famílias e apoiadores, proporcionando suporte emocional, social e financeiro para lidar com a complexidade da doença.
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Estratégias de enfrentamento do câncer adotadas por familiares
Os familiares de pacientes em tratamento oncológico utilizam diversas estratégias de enfrentamento para lidar com o estresse e as mudanças causadas pela doença. De acordo com o estudo “Estratégias de Enfrentamento do Câncer Adotadas por Familiares de Indivíduos em Tratamento Oncológico”3, as principais estratégias adotadas pelas famílias são:
Dar atenção em atividades que evitem o foco na doença
Realizar atividades que desfoquem a atenção da doença, como ler livros, praticar exercícios físicos, sair para se divertir e organizar encontros familiares, são formas de aliviar o estresse e proporcionar momentos de descontração.
Buscar apoio
O suporte emocional é frequentemente buscado em fontes espirituais, familiares e amigos. A religiosidade é uma das principais formas de apoio, proporcionando serenidade e conforto durante os períodos difíceis.
Evitar conversar sobre a doença
Alguns familiares preferem evitar discussões sobre a doença para manter uma aparência de normalidade e evitar aumentar o estresse emocional tanto para eles quanto para o paciente.
Utilizar drogas lícitas tranquilizantes e ansiolíticas para relaxamento e diminuição da ansiedade
O uso de fitoterápicos, ansiolíticos e tabaco é uma estratégia adotada por alguns familiares para tentar aliviar a ansiedade e o estresse causados pela convivência com a doença. O que pode trazer prejuízos para o familiar.
Essas estratégias demonstram a necessidade de suporte contínuo para os familiares, que enfrentam uma sobrecarga emocional significativa devido às mudanças e desafios provocados pelo tratamento oncológico de seus entes queridos.
Cuidados para um familiar de um paciente com câncer
Cuidar de um paciente com câncer é uma tarefa desafiadora e, muitas vezes, o cuidador pode negligenciar seus próprios cuidados e bem-estar.
Cuidar de quem cuida é muito importante, assim, os cuidadores também precisam lembrar de si mesmos para manter a saúde física e emocional. Aqui estão algumas dicas valiosas extraídas do guia “Você também precisa de cuidados”4 para quem cuida de pacientes com câncer:
Cuidar da própria saúde
- Alimentação saudável: Mantenha uma dieta equilibrada com frutas, legumes, grãos integrais e proteínas magras. Evite alimentos processados e ricos em açúcar.
- Exercícios físicos: Realize pelo menos 150 minutos de atividade física moderada por semana. Exercitar-se pode reduzir o estresse e a ansiedade.
- Sono adequado: Tente manter uma rotina regular de sono e busque dormir o suficiente para se sentir descansado.
- Proteção Solar: Evite a exposição ao sol entre 10h e 16h e use protetor solar com FPS de pelo menos 30.
Tempo para si mesmo
- Tire pausas regulares para fazer atividades que você gosta, como ler, assistir a um filme ou passear.
- Não se sinta culpado por tirar um tempo para si mesmo; isso é essencial para manter sua própria saúde.
Estabeleça limites
- Reconheça suas limitações e não tente fazer tudo sozinho. Peça ajuda a amigos, familiares ou serviços de apoio quando necessário.
- Delegue tarefas quando possível e busque apoio de outros membros da família ou profissionais.
Busca por suporte
- Participe de grupos de apoio para cuidadores, onde você pode compartilhar experiências e obter conselhos.
- Considere a possibilidade de apoio espiritual ou religioso, se isso for importante para você.
Gerenciamento do estresse
- Pratique técnicas de relaxamento, como meditação, yoga ou respiração profunda.
- Mantenha uma comunicação aberta com amigos e familiares sobre suas necessidades e sentimentos.
Saúde mental
- Esteja atento aos sinais de depressão e ansiedade. Se necessário, procure ajuda profissional, como um psicólogo ou psiquiatra.
- Não hesite em buscar orientação para lidar com os sentimentos complexos e o estresse que acompanha o papel de cuidador.
Organização e planejamento
- Mantenha uma lista de tarefas e compromissos para ajudar a gerenciar melhor seu tempo e responsabilidades.
- Realize reuniões familiares regulares para discutir o cuidado do paciente e dividir tarefas.
Lembre-se, é necessário estar bem em primeiro lugar para ter forças para ajudar o próximo!
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Referências
1 Carvalho C da SU de. A Necessária Atenção à Família do Paciente Oncológico. Rev. Bras. Cancerol. [Internet]. 31º de março de 2008 [citado 15º de julho de 2024];54(1):87-96. Disponível em: https://rbc.inca.gov.br/index.php/revista/article/view/1765
2 Sanchez, K. O. L., Marchioro, N. L. A. F., Dupas, G., & Costa, D. B. (2010). Apoio social à família do paciente com câncer: identificando caminhos e direções. Revista Brasileira de Enfermagem, 63(2), 290-292. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S0034-71672010000200019
3 MATTOS, Karine; BLOMER, Thatiane Hilman; CAMPOS, Ana Carolina Brunatto Falchetti; SILVÉRIO, Maria Regina. Estratégias de Enfrentamento do Câncer Adotadas por Familiares de Indivíduos em Tratamento Oncológico. Revista Psicologia e Saúde, Campo Grande, v. 8, n. 1, p. 1-6, jan./jun. 2016. Disponível em: http://dx.doi.org/10.20435/2177093X2016101. Acesso em: 15 jul. 2024.
4 Oncoguia. (2019). Você também precisa de cuidados: Guia para o familiar de um paciente com câncer. Programa Ligue Câncer – Apoio e Orientação. Recuperado de www.oncoguia.org.br
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