A busca por soluções eficazes para aliviar os efeitos colaterais do tratamento oncológico é constante. Entre os desafios enfrentados, a mucosite oral se destaca como uma das complicações mais dolorosas, afetando significativamente a qualidade de vida dos pacientes.
A mucosite oral, em linhas gerais, pode ser identificada como uma inflamação na boca e demais órgãos do aparelho digestivo, que se não tratada pode levar o paciente a perder até mesmo a capacidade de se alimentar.
Um estudo recente conduzido por pesquisadores brasileiros demonstrou um resultado positivo no tratamento da mucosite oral usando LEDterapia. O estudo envolveu 80 pacientes pediátricos no Hospital Oncológico Pediátrico Infantil Octávio Lobo, em Belém, Pará. Os pacientes foram divididos aleatoriamente em dois grupos: metade foi submetida ao tratamento padrão com laser, enquanto a outra metade recebeu LEDterapia. Os pesquisadores concluíram que a LEDterapia apresenta efeitos semelhantes aos do laser no tratamento da mucosite, o que traz novas esperanças para o controle da doença.1
Tratamento oncológico em pacientes pediátricos
Quando se fala de câncer em crianças, é comum sentir um aperto no coração. Afinal, nada parece mais injusto do que ver os pequenos enfrentando uma doença tão dura tão cedo na vida. Diante desse cenário, a ciência tem buscado trazer um pouco de luz, literalmente, sobre as sombras que o câncer infantil projeta em famílias e comunidades.
Segundo a Sociedade Brasileira de Pediatria, cerca de 28% dos casos de câncer em pacientes pediátricos são de leucemia, confirmada pela Secretaria de Saúde Pública como o tipo de câncer que mais acomete crianças e adolescentes. Ainda, de acordo com projeções do Instituto Nacional do Câncer, cerca de 11 mil novos casos de leucemia devem surgir até o término de 2025.
O tratamento mais comum para tratar a leucemia é com o uso de metotrexato (MTX), um medicamento eficaz e amplamente utilizado em protocolos de quimioterapia para tratamento de leucemia linfoblástica aguda, e está associado ao surgimento de mucosite oral (MO).
Afinal de contas, o que é mucosite oral?
Essa inflamação acomete todos os tecidos moles da boca: parte interna dos lábios, céu da boca parte interna das bochechas, língua, assoalho da língua e todo o tecido digestivo que vai da boca e passa pela garganta, faringe, laringe, esôfago, até o final do intestino grosso.
A mucosite oral pode causar dor, desconforto, incapacidade de tolerar alimentos ou líquidos, aumentar o risco de infecções oportunistas e interrupções do tratamento do câncer. Isso pode levar ao aumento do uso de analgésicos, hospitalização, afetando negativamente a qualidade de vida do paciente.
Atualmente a condição acomete 50% dos pacientes submetidos à quimioterapia convencional, 80% dos submetidos à quimioterapia e radioterapia (para transplante de células-tronco) e quase 100% dos pacientes submetidos à radioterapia de cabeça e pescoço.2
O que os pesquisadores descobriram sobre a mucosite oral?
Pesquisadores brasileiros realizaram um estudo no Hospital Oncológico Pediátrico em Belém, Pará, com 80 crianças, entre 4 e 12 anos, em processo de quimioterapia com altas doses de metotrexato (MTX) para tratamento da leucemia. Essas crianças foram escolhidas porque podiam colaborar com os médicos e responder a uma escala de dor durante seus tratamentos de quimioterapia.
As crianças foram divididas em dois grupos para receber diferentes tipos de tratamento com luz, mas nem os pequenos pacientes e nem os médicos sabiam quem estava recebendo qual tratamento. Um grupo foi tratado com Terapia a Laser de Baixa Intensidade (LLLT), mais conhecido como laserterapia, e outro com Terapia com Diodo Emissor de Luz (LEDT), também conhecida como LEDterapia.
As sessões de tratamento com luz foram feitas todos os dias, uma vez por dia, sempre no mesmo horário, começando no primeiro dia do ciclo de quimioterapia e continuando até a criança receber alta do hospital.
Dos 40 pacientes tratados com laser (Dispositivo Laser Duo MMO) 10% desenvolveram mucosite oral, enquanto no grupo de LEDterapia (Dispositivo Odontollux), 12,5% dos pacientes desenvolveram a condição. Os resultados mostraram que ambos os grupos tiveram incidências similares de mucosite oral e a severidade também foi comparável entre os grupos.
Finalmente, a análise de dor mostrou que ambas as terapias foram eficazes no alívio da dor, com todos os pacientes alcançando um escore zero na escala de dor em 4 ou 5 dias, respectivamente, para laser e LED.
O estudo concluiu que a LEDterapia é uma alternativa segura, eficaz e de menor custo ao laser para o tratamento e prevenção de mucosite oral, sugerindo a necessidade de mais pesquisas para fortalecer essa associação.
Referências
1 Guimaraes DM, Ota TMN, Da Silva DAC, Almeida FLDS, Schalch TD, Deana AM, Junior JMA, Fernandes KPS. Low-level laser or LED photobiomodulation on oral mucositis in pediatric patients under high doses of methotrexate: prospective, randomized, controlled trial. Support Care Cancer. 2021 Nov;29(11):6441-6447. doi: 10.1007/s00520-021-06206-9. Epub 2021 Apr 24. PMID: 33893842.
2 Trotti A, Bellm LA, Epstein JB, Frame D, Fuchs HJ, Gwede CK, et al. Mucositis incidence, severity and associated outcomes in patients with head and neck cancer receiving radiotherapy with or without chemotherapy: a systematic literature review. Radiotherapy and oncology : journal of the European Society for Therapeutic Radiology and Oncology. 2003;66(3):253-62.
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